Encontro de Carro de Boi em Cururupu ganha status de patrimônio cultural

Neste 2024, ao acontecer pela 15ª vez, o Encontro do Carro de Boi de Cururupu foi realizado sob o reconhecimento de Patrimônio Cultural Imaterial do Município. A certificação, sancionada pelo Executivo, se originou de proposta da Câmara, acolhendo indicação popular (de candidata a vereadora não eleita, Wlly de Cotê, 480 votos), o que valorizou mais a natureza da proposição.

A programação se estendeu por três dias – 22 a 24 de novembro – e reuniu centenas de carreiros, seus animais e veículos, estes ainda importantes na integração da atividade rural à vida urbana. São eles que transportam a produção do interior do município para os centros de beneficiamento e de consumo, trilhando os caminhos nos quais os veículos convencionais trafegam com dificuldade ou não têm acesso. A Prefeitura Municipal é o único órgão público que financia o encontro, com a colaboração da iniciativa privada e de grupos comunitários.

Tradição – Ao rememorar o papel do carro de boi na comunidade, a coordenadora do encontro, secretária de Assistência Social Nazaré Marques (Cotê), justificou o evento como instrumento de manutenção da tradição que ele adquiriu na localidade desde a existência do território. Este ano a mocidade interessou-se por participar, incorporando-se aos quilombolas e aos lavradores, constituindo uma grande confraternização comunitária.

O encontro rivaliza em importância com a festa do padroeiro (em junho, São João Batista) e atrai visitantes de cidade vizinhas e até de outros Estados. Apesar deste interesse, a festa experimenta certo declínio, imposto pela modernidade, contra a qual lutam os mantenedores da tradição e as autoridades municipais. O prefeito Aldo Lopes é um dos entusiastas do movimento.

Recado – O som emitido pelas rodas de madeira do carro de boi ao se movimentarem no eixo no qual se apoiam, “é o recado do ‘existo, insisto e resisto’ que transmitem aos desejosos de sua extinção”, informa a coordenadora, ao explicar o lema (ou tema) do evento. Ela o classifica como o “choro da resistência” sob a ameaça de extinção.

A temporada 2024 teve tambor de crioula, shows populares, programação cultural extensa, feira do agricultor, café comunitário, danças afro, reggae, grupos de pagode e bandas e cortejo de carros com premiação para originalidade, ‘canto’ mais expressivo e criatividade. A cada um foi destinada uma premiação, como incentivo.

Esclarecimentos – Na qualidade de “ministro da Palavra”, o professor Roberto Pestana esclareceu sua participação como presidente da celebração afro (de caráter religioso, mas diferente da missa, exclusiva da diaconia ou do sacerdócio), levada a efeito na área externa do templo católico. Autorizado pelo padre Frazão (pároco local em missão pastoral no município de Santa Helena, por convocação do bispo da Diocese de Pinheiro, dom Elio Rama), Pestana se disse portador do pedido de bênçãos aos participantes do evento e de disposição aos mantenedores da tradição.

Jocélia Pinto, vice-presidente do Projeto Omnirá, apresentou resultado de ações (dança e percussão) com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade dos bairros da zona urbana, mas com extensão às praias e áreas quilombolas. A atuação do grupo já se estende por 30 anos, com oficinas de danças e outras formas de ocupação e entretenimento.

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