José Salim*
Choveu ao longo do dia. Como se os céus chorassem pela partida terrena dele. Haroldo Herberth Silva fez a passagem neste fevereiro de 2023. Dias antes dos dias cheios do Carnaval. Festeiro como era, deve ter notado a coincidência de ser chamado nesta época para a paz celestial em meio à conturbação terrena.
É possível que tenha sido este um pedido pessoal dele, cansado da labuta diária, aos 85 anos. Labuta que o envolveu cedo na vida profissional, influenciado pelo pai Miguelzinho de Ouro, também do métier. A dona Maria das Neves coube acompanhar a desenvoltura dos dois e cuidar de admitir a vida aventurosa que a profissão de jornalista impõe.
Foi cedo pela manhã que recebi a notícia, dada por outro dos nossos da velha guarda – Souzinha. Cuidei logo de avisar meu vizinho Raimundinho Silva, que comigo e meu filho Pedro Augusto o visitáramos três meses antes, numa tarde de boas recordações. Lembramos passagens memoráveis e fatos pitorescos.
Silva era amizade antiga como a minha, egressa do ambiente esportivo que nos uniu na adolescência – eu mais novo nove anos. Conhecemo-nos depois de eu locutor-fantasma concursado da TV Difusora, nos idos dos anos 1963, ingressar na vida profissional jornalística. Convivemos mais demoradamente na Timbira, onde recebeu-me já consagrado também no jornalismo político.
Voltando a Silva, filho de Raimundo Silva, grande dirigente esportivo da época de nossa militância na imprensa esportiva, lembramo-nos da história do Maranhão Atlético Clube que ele escreveu (meu exemplar foi entregue em casa, tamanha sua deferência por mim). Era um eclético, escrevia sobre tudo; mas esta memória encontra-se espalhada em várias edições dos jornais locais, difícil de ser reunida.
Meu filho Pedro impressionou-se com sua vivacidade, observado que uma operação no cérebro, recente, vez por outra, impunha-lhe certo esquecimento.
Tínhamos um pacto: quem fosse antes seria saudado necrologicamente por quem ficasse. Não pude cumpri-lo. A natureza adversa (chuva torrencial) e complicações de mobilidade impediram-se de saudá-lo, pessoalmente, na despedida, agradecer-lhe os ensinamentos e o estímulo profissionais que me ajudaram a firmar na carreira.
Não chorei presencialmente em seu velório e em seu sepultamento. Eu e o compadre Raimundinho Silva, também ausente e por problemas de saúde, fomos substituídos pela natureza: ela chorou por nós.